“Agente mostra a nossa competência, com o nosso trabalho e, assim, as pessoas não têm mais dúvidas”, afirma a juíza Sara Augusta Medeiros, ao comentar o preconceito que ainda ronda as mulheres no exercício de suas profissões. No Dia Internacional da Mulher, elas falam sobre como superar o preconceito de gênero. Há quase seis anos na magistratura, a juíza Sara Augusta atuou em várias comarcas do sudeste paraense e hoje responde pela 2ª Vara Criminal em Belém. Ela garante que, em algumas situações, o preconceito está presente. “No meu caso, que sou juíza, as pessoas não externam, não são francas. Dá para perceber um olhar de espanto ao se deparar, talvez em uma audiência, em que a juíza é uma mulher jovem. Talvez a sociedade não esteja preparada para ver a figura do juiz personificada em uma mulher jovem”, avalia, ao reconhecer que isso tem mudado com o tempo. “Eu não sou raridade. Tem muitas colegas com o mesmo perfil”, afirmou. No contato com as partes, durante as audiências, ela afirmou que ocasionalmente sente um olhar de desconfiança. “Mas, quando a gente inicia o nosso trabalho, aí vêem que a competência independe de homem ou mulher. A gente mostra a nossa competência com o nosso trabalho e as pessoas não têm mais dúvidas”, acredita. Para ela, é importante se valorizar a mulher, que precisa “desse reconhecimento e desse respeito da sociedade”. Na opinião dela, o Dia Internacional da Mulher é uma data para se refletir sobre a aceitação plena da mulher pelo mercado de trabalho. “É uma data emblemática para que comemore as nossas conquistas”, afirmou.
A soldado Erika Garcia, 24, está há dois anos e três meses na PM. Após seleção, foi designada à Companhia de Operações Especiais (COE), unidade de elite da PM, ambiente predominantemente masculino - só há duas mulheres na COE. O preconceito, segundo ela, se manifestava nos olhares de reprovação, como se eles dissessem: “Ela não consegue, nunca será”. “Tive que conquistar um espaço. Hoje já mudou. Até então nenhuma mulher operava, era só administrativa”, contou, ao lembrar de um treinamento de uma semana, do qual participou, durante o qual três homens desistiram. Erika foi até o final. “Participo de missões (operações policiais)”, disse ela, ao afirmar que hoje é uma data para se refletir. “A gente ainda está buscando o nosso espaço. A gente quer ser igual. Levar adiante a luta (iniciada há muito tempo por outras mulheres), até nossos direitos serem iguais e serem respeitados”, afirmou a militar.
Priscila Chagas, 28 anos, é agente de trânsito da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) há três anos e disse não sentir preconceito da população. “Acho que eles respeitam mais as mulheres. A gente se impõe”, afirmou. “Não me sinto incomodada em empurrar carro ou ônibus. E muitos ficam até admirados e comentam: ‘você é melhor do que os dois homens que antes ficavam aqui’”, acrescentou. Segundo ela, as mulheres conseguem fazer o trânsito andar. “Somos mais pacientes. Geralmente quem está do outro lado, está estressado, com pressa, com problema e desconta na gente, que está ali para ajudar. Eu tento com educação, para quebrar o estresse dele. A gente é mais tolerante, consegue diálogo mais aberto. Tem aquele jeitinho de mulher para lidar tanto com homem quanto com mulher”, avalia Priscila, para quem a data de hoje deve ser comemorada. “Somos mulheres e fazemos o que gostamos. Aqui e ali ouvimos piadinhas, mas isso não abala. Sabemos que somos capazes. Fico triste por ter muito preconceito e violência contra a mulher. Somos delicadas, mas somos capazes de desenvolver qualquer função e qualquer tarefa. Somos flores delicadas e precisamos ser cuidadas”, disse, citando uma frase de que gosta muito: “nem toda mulher que ser bailarina”.
CONQUISTAS
Cleide Nair Rodrigues Fernandes tem 28 anos e é gari há dois. Trabalha varrendo as avenidas Gentil Bittencourt e Braz de Aguiar. Nair, como é mais conhecida, diz que sente o preconceito relacionado à sua ocupação. “As pessoas, ao passar pela gente, viram o rosto ou tampam o nariz. Muitas não nos cumprimentam, mesmo quando a gente dá bom dia”, afirmou. Mesmo assim, Nair não desanima e continua realizando seu trabalho com dedicação. “Acho que hoje é um dia para comemorar. Estamos bem, com saúde e trabalhando”, afirmou.
Bárbara Loiola, 25 anos, trabalha em um ambiente dominado pelos homens. Há oito anos, ela é árbitra de futebol e integra o quadro principal da Federação Paraense de Futebol e, também, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Nunca sofri preconceito. A federação me acolheu muito bem”, disse.
No estádio, e de machistas, Bárbara disse já ter ouvido frases assim: “O que mulher está fazendo aí? Deveria era estar na cozinha. Eu não respondo nada, para não causar mais problemas. Isso ocorre não só com mulheres, mas não esquento a cabeça com torcedor. Respondo com a competência no trabalho, para que eles entendam que nós mulheres temos a mesma capacidade que os homens têm de estar na arbitragem de futebol”, disse. Segundo Bárbara, hoje é um dia muito importante para se relembrar mulheres que marcaram a história com lutas e conquistas. “E, também, para refletir o que podemos melhorar na vida pessoal e profissional”.
A médica Regiane Miranda Arnund Sampaio tem 19 anos de formada. É gastroenterologista e hepatologista. Ela afirmou que, no exercício de sua profissão, nunca detectou preconceito. Em sua opinião, a data de hoje é para se comemorar as conquistas já alcançadas. “É, também, uma data para se refletir, pois ainda há no mundo muito preconceito, que deve ser banido”, afirmou.
O liberal
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