O Ligue 180 registrou ao longo do ano passado cerca de 11 relatos por dias de agressão a mulheres no Pará, com um total de 3.927 ligações - taxa de 116,80 agressões a cada grupo de 100 mil mulheres do Estado. O número é 78% superior ao registro de 2014, quando foram anotadas 2.206 denúncias do Pará.
Os dados são do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, levantados a pedido de O LIBERAL, com base nas ligações recebidas pelo telefone da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), um disque-denúncia que é a principal porta de acesso aos serviços que integram a rede nacional de enfrentamento à violência contra a mulher.
Desse total, 1.274 denúncias (32,5%) foram para relatar agressão física, o que representa mais de três acusações desse tipo de violência por dia. É quase o dobro do número denunciado no ano anterior, que fechou com 793 registros. O segundo tipo de violência mais relatado foi o de agressões psicológicas, com 625 ligações (16%).
A perseguição de mulheres, por exemplo, é um tipo de violência que se enquadra nessa classificação. Em média, elas responderam por uma em cada cinco denúncias que chegaram à central de atendimento, provenientes do Pará. Na passagem dos dois últimos anos, essa violência apresentou um acréscimo de 212 novos registros.
Ainda segundo o balanço de 2015 do Ligue 180 no Pará, em 66,3% dos casos relatados de violência contra a mulher (2.603) há a chance de feminicídio. Das 3.927 ligações relatando violência, 75% dos denunciantes informam episódios recorrentes de violência, com casos semanais de agressão. A Lei do Feminicídio – Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015, tornou o assassinato de mulheres qualificado quando feito por menosprezo à condição de mulher.
Outro caso que possui alguma frequência é o de cárcere privado, com 124 denúncias no decorrer de 2015. Já o número de relatos de violência sexual é ainda maior, com 157 relatos, o que corresponde no Pará a um caso a cada dois dias. De acordo com o balanço, em comparação com o mesmo período em 2014, a Central de Atendimento à Mulher registrou aumento de 726,6% das denúncias de cárcere privado e de 324,3% nos casos de estupro. Apesar dos dados serem preocupantes, o Ministério das Mulheres avalia que o aumento dos relatos mostra a conscientização da população perante a importância de realizar a denúncia.
O levantamento mostra que é em casa que as mulheres paraenses são violentadas. Em 68,3% casos denunciados, a violência descrita foi doméstica ou familiar, sendo o atual companheiro da vítima o principal agressor (52,9%). O cônjuge também aparece como agressor em 15,2% dos casos e os ex-companheiros em 16,3%.
O tempo de relação das vítimas com os agressores aparecem como duradouros, sendo de 30,5% acima de dez anos e de 18,7% entre cinco e dez anos. Outra característica, é que na maioria dos casos em que a vítima possui filhos, eles presenciam a violência - um em cada quatro registros. Em quase 10% das denúncias, os filhos e filhas dessas mulheres também sofrem violência.
Já na análise do perfil dos denunciantes paraenses, surgem nas primeiras posições as próprias vítimas, com 45,4% dos registros, seguido pelos vizinhos, com margem de 4,1% dos casos. O serviço de denúncia funciona há mais de nove anos e já realizou mais de 4 milhões de atendimentos. Desde 2014, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 acumula também as funções de acolhimento e orientação da mulher em situação de violência. O serviço também está disponível para brasileiras no exterior. São 16 países entre América Latina, Europa e América do Norte.
Feminicídio
Completou um ano na quarta-feira, 20, de abril o assassinato da jovem Ingred de Kássia Israel, considerada a primeira vítima cujo crime foi enquadrado na tipificação de feminicídio no Pará, e o suspeito, que era o namorado dela, está preso em uma unidade do Sistema Penitenciário do Pará aguardando julgamento.
De acordo com a Polícia Civil, ele confessou o assassinato, mas afirmou, em depoimento, que agiu em legítima defesa. A estudante foi encontrada morta com perfurações no corpo dentro de sua casa, em Ananindeua.
O liberal
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