Pai Velho e sua filha NayáEm nossa última noite juntos, meu pai deixou sua última história, dessa vez curtinha porque a respiração já não ajudava. Ele perguntou se Hugo estava jogando bola e eu disse que sim, que havia deixado ele no campinho. Então, ele disse que quando criança comprou uma bola para jogar com os amigos e que um dia, no meio do jogo, um deles teve a coragem de lhe dizer:
- Wagner, precisamos te falar, a bola é sua, mas você é muito ruim, machuca a gente toda hora. Meu pai disse que na mesma hora entregou a bola e nunca mais jogou futebol na vida.
Logo em seguida, ele contou que, após o curso de piloto, estava prestes a fazer o "check" e o instrutor lhe perguntou:
- Você quer mesmo ser piloto?
e ele respondeu: - Não!
O instrutor ficou surpreso e questionou o que ele estava fazendo lá, afinal?
E meu pai respondeu: - Eu quero ser um bom piloto! O melhor, ou não serei!.
Hoje ele fez seu ultimo voo acordado e no meio da viagem acenava ao piloto para voar baixo por conta da pressão.
Enquanto segurava sua cabeça, eu mal conseguia vê-lo sem cair no choro, seu fôlego curto, seu corpo franzino e debilitado. Pensei no quanto ele amava voar e em quantas pessoas salvou da mesma forma.
Foi um guerreiro chegando até hospital e foi embora porque seu enorme coração não aguentou. Foram 96 anos de uma vida magnífica, apesar de não jogar bola, foi o melhor piloto, melhor marido, melhor pai, melhor avô, melhor amigo, melhor patrão, melhor irmão, melhor ser humano que tive a imensa honra de chamar de pai. A dor de perdê-lo só ameniza por saber que não está sofrendo.
Dói.
Texto extraído da página do Facebook, da advogada Nayá Fonseca, filha de Pai Velho.
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