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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Quem são os 30 PMs assassinados este ano no Pará

 Ney Marcondes

Crimes praticados contra policiais militares já viraram rotina no Pará. No último dia 17, o cabo Edwilson Pacheco da Silva, 28 anos, foi assassinado a tiros em Marituba. Exatamente uma semana depois, a história se repetiu, dessa vez em Benevides. O cabo Irialdo de Lima Ramos foi baleado e perdeu a vida em uma rua movimentada do centro do município, ontem pela manhã. Foi o 30° policial militar assassinado no estado esse ano. Isso significa que a cada 10 dias uma família sepulta um PM, enquanto a insegurança segue em alta voltagem.

A morte de Irialdo aconteceu por volta das 9h, na rua Joaquim Pereira de Queiroz, bairro Centro. Moradores da área dizem que o cabo Ramos costumava fazer trabalhos extras como segurança de supermercados e lojas, era conhecido na comunidade evangélica e não tinha desavenças por ali.

Segundo testemunhas, o militar tinha acabado de abastecer sua moto em um posto de combustível na rua Joaquim Pereira de Queiroz quando foi perseguido por dois desconhecidos em uma moto do modelo Honda Fan preta, que o balearam. O militar teria conseguido avançar até um ponto onde morreu, mesmo atingido. Apesar de ele portar uma pistola calibre ponto 40, a arma visivelmente não foi usada.

As investigações seguem na Delegacia de Benevides, a cargo do delegado Silvio Garcia. De acordo com o policial civil, até o momento ninguém foi preso.

VINGANÇA

O delegado informa que há várias linhas de investigações. Uma delas seria de possível vingança de algum presidiário, já que o cabo era lotado no batalhão penitenciário. 

A outra seria de vingança de alguém da área onde ele mora (que é considerada área vermelha), mas familiares descartaram essa possibilidade. A mais plausível até agora é a de que seria uma vingança de uma tentativa de assalto que ele sofreu há um tempo, na qual o cabo reagiu e baleou um dos bandidos. O delegado Garcia disse ainda que descarta a chance de ser tentativa de assalto porque os criminosos não voltaram para pegar os pertences do cabo.

EFETIVO NAS RUAS É MENOR QUE O IDEAL, DIZ REPRESENTANTE DOS POLICIAIS

Com o saldo de 30 policiais militares assassinados somente esse ano, segundo a Associação dos Cabos e Soldados da PM e Bombeiro Militar (ACSPMBMPA) o número já ultrapassa o registro do ano passado, quando 28 PMs foram mortos no Estado. O cenário demonstra a gravidade da situação de violência que assombra a população paraense e que tem alcançado, inclusive, aos próprios agentes de segurança pública. 

Presidente da Associação, o cabo da PM Edivan Ferreira da Silva ressalta que a corporação arrisca a vida diariamente e, ainda assim, muitos se sujeitam a fazer serviços extras para complementar a renda mensal, vivendo sob um risco ainda maior. “Infelizmente é mais um companheiro que se vai. E o governo não dá nenhuma perspectiva de reajuste de salário”.

A constatação dos colegas o cabo Irialdo de Lima Ramos, após ele ser morto a tiros, por dois desconhecidos que fugiram de moto. (Foto: Ney Marcondes/Diário do Pará)

Segundo o cabo F. Silva, os salários da categoria seguem sem reajuste desde 2015. Além disso, eles cobram melhores condições de trabalho e a definição da carga horária. Silva explica que o salário-base pago a soldados e sargentos está, em média R$ 4 mil. 

“Devido à má remuneração, muitos tiram bicos para compor a renda e garantir o sustento das famílias. Isso os deixa mais expostos à violência”, acrescenta ao ressaltar que a corporação aguarda posicionamento do Estado com relação aos reajustes dos PMs e bombeiros militares. Porém, até o momento, não houve sinalização de negociação.

EFETIVO

Para o cabo, a inércia do governo se reflete nos alarmantes índices de criminalidade no Pará, sobretudo por não assegurar melhores salários e condições de trabalho aos agentes de segurança pública. Atualmente, o efetivo da corporação é composto por 14.600 PMs. 

Contudo, o número de militares que efetivamente atuam nas ruas é menor, levando em consideração aqueles que estão indo para a reserva, os que estão de licença médica ou à disposição da Justiça. É um efetivo muito aquém da demanda, já que atendem a uma população de quase oito milhões de habitantes em todo o Pará.

“A Lei Orgânica Básica da PMPA prevê o quantitativo mínimo de 31 mil homens para suprir essa demanda. O trabalho com quantitativo reduzido e serviços extras estão entre os fatores que deixam a categoria mais exposta”, pondera. Ele acrescenta que, para atender de forma eficaz a Região Metropolitana de Belém, seriam necessários pelo menos 10 mil PMs, sendo que esse número corresponde quase à totalidade do Estado.

Desde 2010, a entidade tem protocolado documentos junto aos órgãos que compõem o sistema de segurança pública do Estado para cobrar providências e, também, a retomada do grupo formado por diversas entidades para discutir ações para a segurança pública. 

Entretanto, esse grupo foi desfeito em 2013, conforme ressaltou o presidente da Associação. “Enviamos ofícios, cobramos, mas é difícil ter acesso aos órgãos do governo hoje”, critica.

Procuradas, as assessorias de comunicação de Secretaria da Estado de Administração (Sead) e Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) não se manifestaram até o fechamento dessa edição.

(Alice Martins Morais e Pryscila Soares/Diário do Pará)

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