Quando viu as chamas se alastrarem pelas casas, o autônomo Pedro Furtado do Espírito Santo, 58 anos, correu para socorrer o filho, que estava dentro da sua residência. O jovem usa muleta e cadeira de rodas para se locomover.
Eram 19h de quarta-feira (30) quando a primeira residência começou a incendiar, na passagem Serrão de Castro no Guamá. Em poucos minutos, a vila, que fica próxima da avenida José Bonifácio, ficou tomada pelas chamas. 15 casas foram completamente destruídas. A casa de Pedro foi uma delas.
Pedro salvou o filho, mas, infelizmente, acabou não conseguindo sair do local e morreu carbonizado. O corpo foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros ainda durante a noite e removido para o Instituto Médico Legal (IML), onde será realizado um exame de DNA na próxima segunda-feira (4), já que não foi possível fazer o reconhecimento facial ou pelas impressões digitais.
As irmãs da vítima, Minervina e Maria Andrelina, bem como a sua mãe, Floraci do Espírito Santo, foram até o local para receber orientações a respeito da liberação do corpo. As irmãs moram próximas à mãe, na avenida Augusto Correa, também no bairro do Guamá, e puderam ver as chamas.
Quando descobriram que o fogo era na vila onde o irmão morava, resolveram ir até o local. “A gente saiu do jeito que estava, chegamos aqui e começamos a procurá-lo, fomos até no Pronto-Socorro, mas nada. Depois soubemos que ele estava lá mesmo, no meio do fogo. Morreu tentando salvar o filho que usa muletas e cadeira de rodas”, disse Maria Andrelina. Pedro morava na passagem Serrão de Castro há cerca de cinco anos e deixou sete filhos e quatro netos.
PERDAS
Quando o cheiro de fumaça começou a se alastrar na passagem, Arinaldo Ribeiro, 53 anos, técnico de refrigeração, saiu de casa para conferir se havia algo acontecendo do lado de fora. Mas, ao retornar, cerca de cinco minutos depois já pôde avistar o fogo e, para sobreviver, saiu do local com os quatro filhos e um neto. Ele morava ao lado da casa onde iniciou um incêndio de grandes proporções e atingiu as 15 residências - a maioria de madeira - no bairro do Guamá, deixando o local completamente destruído com mais de 100 pessoas desabrigadas.
“Foi tudo muito rápido. Senti cheiro de queimado, ainda fui lá chamar a vizinha, tentei olhar se tinha algo no fogão, mas não vi nada. Ela não estava lá”, lembra. “E voltei para casa, mas não demorou muito já vimos o fogo. A única atitude que tive foi gritar para os vizinhos. Não tive como salvar nada.” Arinaldo conseguiu tirar a família sem ferimentos, mas perdeu todos os bens materiais, como fogão, geladeira, central de ar, televisão, guarda-roupa. “Perdemos também dinheiro e documentos. Agora é recomeçar, fazer tudo de novo”, disse, chorando, ao visitar o local na manhã de ontem.
Outras casas também foram danificadas pelo fogo, no bairro do Guamá
As chamas atingiram cerca de 20 metros e danificaram residências vizinhas à passagem, deixando vidros de janelas quebrados, e até mesmo caixa d’água que ficavam no topo das casas derretidas, tamanha a proporção da chamas. A fumaça ainda era intensa no dia seguinte. A dona de casa Patrícia Kzan, 35, estava no seu quarto quando viu as chamas se propagarem ao olhar pela janela. Na mesma hora, ela chamou outro morador para tirar o botijão de gás, mas não conseguiu.
Ela e os vizinhos de uma passagem próxima passaram o tempo todo carregando baldes de água para resfriar muros, paredes e janelas. Por conta disso, ela ficou com vários pontos de queimaduras leves pelo corpo. “Na hora, a gente nem pensa direito”, conta.
Grávida de oito meses, a dona de casa Marly da Silva, 29, só teve tempo de sair com os filhos de 9, 11, 12 e 15 anos. “A gente escutou a gritaria e só deu tempo de pegar as crianças e sair correndo. Depois o fogo já estava imenso, vimos tudo lá da rua”, comenta. “Na casa que eu moro, moram outras duas famílias, uma no compartimento de cima e outra atrás. Dá muita tristeza olhar para trás e ver tudo que a gente tem queimando assim”.
(Dominik Giusti/Diário do Pará)
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