O período de estiagem vem ocasionando muitos problemas aos municípios da região oeste do Pará. Em Santarém, comunidades ribeirinhas, que tem como principal meio de sobrevivência os rios da Amazônia, enfrentam dificuldades diversas.
Mesmo sendo um fenômeno natural da região amazônica, os períodos de cheia e vazante dos rios acabam afetando de forma negativa a vida das populações que habitam a região, especialmente quando tais fenômenos ultrapassam os limites históricos verificados.
Os problemas socioambientais e econômicos se intensificam com a estiagem prolongada. Na comunidade de Aracampinas, região da Boca do Ituqui, por exemplo, o período de reprodução de algumas espécies de peixes está sendo prejudicado. Um grande lago que existe na região, teve o seu volume de água muito reduzido, ocasionando a cena demonstrada na foto. Milhares de peixes estão sendo dizimados por causa da seca.
Para o Coordenador do Curso de Engenheira de Pesca, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Charles Farias Junior, apesar do fenômeno ser natural da região amazônica, a ação humana destruindo o meio ambiente pode ampliar o impacto ambiental nessas áreas.
“A gente sabe que o fenômeno de seca/enchente é algo que faz parte da geográfica amazônica. Agora existem anos em que existem secas muito prolongadas e vazantes também prolongadas. No caso específico que nós estamos lidando, que é a vazante, dependendo do ambiente, alguns lagos e rios podem ficar com um nível de água tão baixo que não sustentam a atividade pesqueira, ou que ocasionam a mortalidade de peixes. A seca afeta da seguinte forma: na atividade pesqueira nós temos o que chamamos de mortalidade natural e mortalidade por pesca. Então, a mortalidade natural, no caso da seca, se dá porque os ambientes se contraem, dependendo da profundidade destes ambientes, as temperaturas se elevam muito, e os peixes morrem por deficiência de oxigênio na água ou por causa da temperatura muito elevada, dependendo de algumas espécies. Além disso, quando o ambiente aquático se retrai muito, todo o fenômeno de mortalidade natural que estão relacionados à predação, elas são intensificadas, até porque as espécies estão presas e ficam mais vulneráveis aos predadores, seja aves, outros peixes, outros animais e principalmente da ação do homem. Em outros lugares, tem alguns lagos que são temporários e que secam por completo. Além disso, nós temos que verificar a informação dos pescadores que dizem que alguns ambientes estão secando muito. Neste caso, nós temos que verificar o histórico de impactos ambientais nesta área, que por exemplo, podem ter reduzido a profundidade do lago em função do desmatamento da mata ciliar”, explica o Coordenador.
Os impactos ambientais da ação humana representa um risco à sobrevivência de várias espécies da região de rios. Infelizmente, se nada for feio, o principal prejudicado vai ser o próprio homem.
De acordo com Charles Farias, o resultado negativo deste fenômeno na atividade pesqueira é muito relevante, “se existir uma mortalidade muito grande, é lógico que toda aquela população que está ali, que na verdade é uma comunidade, que não é só peixe, são vários organismos aquáticos, ela vai precisar se recompor, e isso vai levar um tempo, somente quando existe a variação que está relacionada aos processos ecológicos de migração das espécies, então, algumas espécies vão aproveitar aquele novo ambiente e vão vir colonizar, e aquelas mais vulneráveis vão levar mais tempo para recompor. Vai chegar o momento que o pescador vai ter mais dificuldade para pescar, e ele vai ter que procurar outras áreas, até aquele ambiente se recuperar. Quando nós temos o fenômeno de seca muito intenso, todas essas variáveis, como por exemplo, da qualidade da água, trazem uma mortalidade para os peixes, porque reduz muito o oxigênio, a temperatura da água aumenta muito, todos os processos de ciclagem dos nutrientes da decomposição da matéria orgânica se intensificam, porque a temperatura é um catalisador, e em função disso existe uma absorção nos processos ecológicos muito grande de oxigênio, então, cai o nível de oxigênio da água, e várias espécies que são mais vulneráveis vão morrer, e isso logicamente vai afetar os recursos pesqueiros”, disse o especialista.
Ainda de acordo com Farias, todos os ambientes aquáticos podem sofrer o aquecimento das águas, sejam ambientes maiores, sejam ambientes menores, o que somente altera é a intensidade “num ambiente maior, como um lago grande e profundo, um igarapé ou uma calha de rio, os fenômenos climatológicos, eles são menos afetados porque um volume maior de água, essa variação é menor, ao contrário acontece quando o volume de água é menor, apesar das nossas espécies estarem habituadas, mas até nós mesmo sofremos com o calor. Podemos imaginar isso como se fosse um panela aquecendo e o peixe está ali”.
LAGO DO JUÁ: O professor/coordenador da UFOPA, Charles Farias Júnior, também alerta sobre os problemas ambientais enfrentados pelo lago do Juá, que fica localizado às margens da Avenida Fernando Guilhon, próximo à área urbana de Santarém.
Com o severo desmatamento de áreas do entorno do manancial, ocasionado pela expansão urbana do Município, o processo de assoreamento se agrava a cada ano, e pode muito em breve fazer com que as águas do lago cheguem a um nível muito baixo, impossibilitando que espécies que atualmente habitam o ambiente, possam sobreviver à estiagem igual a deste período.
ENTENDA O CASO: No ano de 2014 a contaminação do Lago do Juá por conta da lama que desceu do Residencial Salvação e do loteamento da empresa Sisa/Buriti preocupou os ambientalistas, pescadores e moradores de Santarém, no Oeste do Pará. Após uma forte chuva que caiu em Santarém, a lama invadiu o Lago do Juá, mudando a tonalidade da água para barrenta, onde antes era azulada.
Moradores afirmaram que a lama desceu da construção do residencial do projeto “Minha Casa, Minha Vida”, implantado em uma área que fica às margens da Rodovia Fernando Guilhon. A lama também invade a praia do Juá, que é freqüentada por muitas pessoas. “A água está mais escura, devido a chuva que desceu da construção do Minha Casa Minha Vida”, disse um banhista.
O morador Raimundo Pelé diz que a situação tem prejudicou a pesca no local. “Está acabando o nosso lago, ninguém pega mais peixe, acabou”, reclamou na época o pescador.
Fiscais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) fizeram um levantamento, sobre os reais impactos causados ao Lago do Juá e verificaram os danos originados pela obra do governo federal ‘Minha Casa, Minha Vida’ e das obras da empresa Buruti, ambas às margens da rodovia Fernando Guilhon e próximos ao manancial. A intenção foi diferenciar os dois casos para estabelecer a multa a qual foi aplicada à empresa responsável pelo “Minha Casa, Minha Vida”.
Na época, o secretário de Meio Ambiente, Podalyro Neto, informou que a multa que a empresa Em Casa, construtora responsável pela obra do governo federal, receberia, iria variar entre R$ 5 mil e R$ 5 milhões, de acordo com a lei de crimes ambientais. Podalyro Neto disse, ainda, que em relação aos impactos causados pela obra da empresa Buriti, cabe ao governo do Estado estabelecer multa.
Durante a vistoria a Semma detectou danos ao manancial, causados pelo lançamento de resíduos oriundos das obras do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, como lama e restos de materiais de construção, levados para dentro do lago com a força da enxurrada. Os danos ao meio ambiente teriam sido ocasionados pela falta de um projeto de drenagem por parte da empresa responsável pela obra do governo federal. Durante a vistoria, foi constatada a mudança de coloração de azul para amarela, resultando também no assoreamento do lago. Além das multas, outras medidas emergenciais foram tomadas, em diálogo com a empresa, visando evitar mais danos ao manancial.
Membros do Movimento “Salve o Juá” na época realizaram uma caminhada na área do Lago. A iniciativa teve como objetivo chamar atenção das autoridades de Santarém e do Pará em relação aos impactos ambientais causados pela construção do conjunto habitacional da empresa SISA/BURITI.
Representantes do “Salve o Juá” denunciaram o assoreamento acelerado do manancial, após a implantação do residencial e do desmatamento da mata ciliar das margens do Lago Juá. O crime ambiental cometido pela empresa SISA/BURITI, segundo os ambientalistas, vai dizimando as belezas naturais do Lago do Juá e igarapés das proximidades.
Por meio de imagens, os ambientalistas registraram a beleza natural do manancial, assim como os resultados da destruição, onde igarapés estão em processo de extinção, enquanto que outros córregos estão sendo sufocados pelo assoreamento do PROJETO BURITI. Para os ambientalistas, o Governo do Pará fez um acordo com a empresa, que para eles, quer concluir a degradação ambiental na área do Lago do Juá.
Por: Edmundo Baía Júnior
Fonte: RG 15/O Impacto
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Santarém: Denúncia – Extermínio de peixes na região do Ituqui
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