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sábado, 25 de novembro de 2017

Racismo não pode ser tratado com ‘humor’, diz pesquisadora



Mariana Londres, de Brasília

Tais Araújo em palestra onde disse que cor do filho faz as pessoas mudarem de calçada no BrasilReprodução/YouTube

Duas questões envolvendo o racismo geraram debates intensos nas últimas semanas. A primeira foi a ‘brincadeira’ do jornalista William Waack em conversa fora do ar, dizendo que buzinar era ‘coisa de preto’. A segunda foi um meme compartilhado pelo presidente da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação), Laerte Rimoli, ironizando uma declaração da atriz Taís Araújo, que disse em uma palestra que a cor do filho dela faz com que as pessoas mudem de calçada no Brasil. Após a repercussão, Laerte Rimoli pediu desculpas e apagou o post.

Para a pesquisadora Marjorie Nogueira Chaves, do Núcleo Estudos Afro-brasileiros (Neab) da UnB (Universidade de Brasília), é muito perigoso colocar algumas questões, como o racismo, no âmbito do humor, da brincadeira.

— Infelizmente a gente como sociedade tende a colocar algumas questões muito sérias no âmbito do humor, o que eu acho extremamente perigoso. As pessoas falam que existe uma censura, mas isso não é censura não. Eu acho que deveria existir bom senso em relação a determinados temas. Quando a gente fala de racismo a gente fala de uma realidade do Brasil. A gente está falando de 54% da população. Não é um direito de minoria, a gente está falando de uma maioria. Então as revelações do Laerte Rimoli e do William Waack não agridem apenas uma pessoa a que se direcionou o comentário. Atinge a população brasileira. No caso do presidente da EBC é mais grave porque é um gestor público que desconhece a realidade a qual ele faz parte. E ironiza de forma pública com declarações desagradáveis e ofensivas.

Para Marjorie, no caso de Rimoli o ataque foi ainda mais grave pois se dirigiu a uma mãe que mostrava preocupação com a situação do filho negro.

— Me chamou atenção ele ter ironizado uma mãe que zela pela segurança do seu filho. É compreensível que ela tenha essa preocupação porque o número de homicídios na juventude negra é absurdo e parte desses homicídios são executados por agentes públicos de segurança. O Estado que deveria zelar pela população negra é, também, agente dessa violência.

A pesquisadora conclui dizendo que a polarização em torno do tema sinaliza que o debate sobre racismo na sociedade brasileira ainda não é maduro, é tratado como se fosse ‘gosto’, ou algo a se concordar ou discordar. Para ela, é crime.

— Eu acho que houve mudança nos últimos anos no sentido de falarmos mais sobre o racismo e de uma forma mais aberta, mais ampla. No entanto esse debate não é maduro. Para grande parte das pessoas, o discurso do racismo enfrenta alguns entraves. Os nossos valores, por mais que ainda estejamos na modernidade, os valores ainda não muito coloniais. E da forma como a mídia trata a questão racial, como se pudesse ser debatida como um gosto. Eu gosto ou não. Concordo ou não. Não é assim. Racismo é crime que deixa a população negra em uma situação degradante. Não acho que haja polaridade, estamos falando de algo muito grave, da reprodução do racismo, que é um crime. Está na nossa Constituição desde 1988. Essa polarização não deveria existir, todas as pessoas deveriam estar envolvidas no debate de uma forma mais madura.

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